sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O SONHO QUE SONHO
Jorge Linhaça

O sonho que sonho
me deixa acordado
carrego em meu peito
mundos sem fim
Se sonho o que sonho
e se fico calado
sou anjo amputado
da fé que há em mim

Me dizem, me falam
já passou da hora
de colher os frutos
da semeadura
Meus lábios se calam
minh'alma já chora
coberta do luto
das minhas agruras

Se canto meu canto
liberto da usura
talves seja o medo
de perder o fio
Não sou nenhum santo
mas trago a candura
criada em mim cedo
um tanto infantil

Se a senda eu percorro
com meus pés descalços
num rumo incerto
(dir-me-ão alguns)
de fome não morro
enfrento os percalços
pois Deus está perto
não esquece nenhum

A fama é volátil
eterna madrasta;
Falso brilhante
a nos seduzir
qual faca retrátil
à alma desbasta
passado um instante
ela já nos fugiu

Castelos de areia
não tem alicerces
desabam assim
que as ondas os cobrem
Acendo a candeia
que a luz me empreste
na rocha enfim
as paredes já sobem

A minha tapera
sem luxo nem viço
na pedra construo
sem pressa ou clamor
Se finda a espera
prossegue o serviço
e o bem distribuo:
sementes de amor

Chegada a colheita
quem pode dizer
quais serão os frutos
de doce sabor?
Se o mal nos espreita
desde o nascer
a ajuda desfruto
de Nosso Senhor.

A semente lançada
ao solo depende
Se cresce ou fenece
se mirra ou abunda
A alma cansada
pro lado já pende
mas pela benesse
na fé se refunda

Semeio ao vento
o que posso dar:
nem prata nem ouro,
apenas carinho
Palavras de alento
que possam guardar
tal qual um tesouro
de um menininho

À Deus agradeço
o dom recebido;
se talento tenho
foi Ele quem deu.
Se eu esmoreço
ou fico esquecido
e a Deus não atendo
que homem sou eu ?

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